Conforme já foi divulgado aqui no blog, os ciclistas Rodrigo Costa Oliveira e Lucio Lima participaram do evento do Teutônia Ciclismo, no último final de semana, encarando a prova de 300 km's, conseguindo completá-la com êxito.
Segue nesta postagem o relato enviado por Lício Lima.
AUDAX TEUTÔNIA 300 km – 18 E 19/01/14
Completar
esta prova não foi difícil, foi “dificílimo”.
A
preparação não foi como eu gostaria, juntou o final de ano em que só dei uma
pedalada de 80 km em Curitiba e mais viagens e tempo ruim aqui em Bagé impossibilitaram
uma preparação. Eu havia feito um audax 200 em Vera Cruz em novembro, acho que
não deu pra esquecer como se anda de bicicleta.
Fui
para a prova com o Rodrigo Oliveira, companheiro das pedaladas aqui de Bagé que
fez a prova com a sua POSSANTE GT aro 29. Saímos daqui sábado cedo, passamos em Santa Cruz e chegamos em Teotônia na hora do
almoço. Almoçamos junto com o Udo e mais dois “doidos” da região de Santa Cruz
que também estavam a caminho da prova, saíram de lá às 08h00min de bike, o Udo
com a sua famosa Barraforte, estavam fazendo uma pedalada de 90km para chegar
na prova já aquecidos, como sempre.
A prova
iniciou às 16:00 hs, e como combinado fomos escoltados até os bonecos do Teu e
da Tônia, daí pra frente era cada um por si, e muitos obstáculos a vencer, pra
começar uma “pequena” subida de 7 quilometros com desnível de 350metros, um
ótimo aperitivo pra quem estava disposto
a pedalar 300 km pelas serras da região, aliás 310 km.
Como eu
já esperava, o Rodrigo se mandou, pedalou muito nos últimos tempos e estava
afiado para a prova.
Depois
destes 7 quilômetros teve a “Vingança da Linha Berlim”, desci os 4 quilômetros
daquela que me tomou uma hora nos 200 km de Teutônia em menos de 5 minutos,
cheguei a pegar 73 km/h na descida.
Quando
cheguei no PC1, encontrei o Rodrigo saindo, ainda com a “Faca nos dentes”,
doido pra fazer um bom tempo na prova.
No
caminho para Estrela e Lajeado, passando por Colinas, começou a me dar aquela
vontade louca de parar, comecei a pensar nas subidas que estavam por vir e
pensei muitas vezes em procurar um hotel por ali e esperar o Rodrigo na manhã
seguinte para voltarmos pra Bagé, foi uma discussão grande “de mim comigo
mesmo”, nessa hora você começa a pensar o que esta fazendo ali com todos
aqueles “doidos” por bicicleta, não sei o que nos move. A pequena garôa que
caiu entre Colinas e Estrela foi uma benção, o sol estava judiando e aquela
sombrinha veio na hora certa.
Fui em
frente, comi melancia até ficar com a barriga doendo na Tenda da Alemõa, já no
km 82 e até que subi bem a subida que havia logo à frente, o desnível era
grande e tinha cerca de 7 quilometros. Encontrei o pessoal de Pelotas
empurrando a bike a certa altura e fui solidário a eles, desci da bicicleta e
caminhei junto por cerca de 2 quilometros, já era noite e a companhia desses
Gauderios foi muito legal, bom papo e novos amigos. Quando eles resolveram
pedalar mais um pouco, na subida, quando dei as primeiras pedalas veio o
primeiro susto, começou a me dar cãibras na coxa direita, fiquei apavorado,
pois ainda faltavam muitos quilometros para completar a prova e pensei que
teria problemas, desci da bike, caminhei mais um pouco dando uma esticada nas
pernas e logo depois subi e continuei, felizmente não tive mais problemas desta
natureza durante a prova.
Desde a
Tenda da Alemõa até o local da Janta foi relativamente tranquilo, mesmo subindo
um desnível de cerca de 600 metros. Foram cerca de 37 quilometros, chegando ao
km 119 da prova.
A janta
foi servida em um tipo de Salão de Baile da comunidade, todo mundo entrava com
as bicicletas dentro do salão, a largava em um canto qualquer ou no chão,
arrumava uma mesa e saboreava aquele macarrão não muito quente com galeto e
salada, estava muito bom, como é boa uma comida salgada nesta hora. Para minha
surpresa, quando olhei lá no meio do salão, no meio de tantas bicicletas, vi o
Rodrigo Oliveira, meu companheiro, mexendo no bagageiro, cometeu o mesmo erro
que eu nos 200 de Teutônia, levou um bagageiro pesado e uma mala cheia de
coisas, sem necessidade. Imediatamente dei um grito e depois outro e foi quando
ele me viu, parecia uma criancinha que perdeu o pai no meio da multidão, seus
olhos brilharam e ele veio correndo falar comigo. Disse que estava com as
pernas doendo, cansado e com a cabeça confusa e que dali pra frente iria fazer
a prova em minha companhia, acontecesse o que acontecesse, completar a prova
com um bom tempo já não era mais prioridade para ele. Não conseguiu se adaptar
a nenhum grupo de ciclistas e estava se sentido muito só na prova. Daí pra
frente fomos parceiros até o fim, fizemos uma pedalada memorável e com certeza
a responsabilidade que eu tinha de levar mais aquele Gaucho até o final da
prova me deu força extra para continuar e concluir a prova.
Depois
disso foram muitas e muitas subidas, intermináveis subidas, contínuas subidas,
parecia até que não tinha descidas, a gente descia o trecho em declive em
poucos minutos e sofria horrores nos trechos em aclive, foram muitas subidas
mesmo, pedalamos cerca de 120 quilometros em cima de uma serra “braba”,
impiedosa e apesar de estar escuro a gente via nas descidas as luzes dos outros
ciclistas que estavam na frente lá em cima e era o prenuncio que mais uma subida
daquelas viria pela frente e foi quando comecei a fazer contas. Calculei que
para completarmos a prova teríamos que chegar no PC5 antes das 8 da manhã para
sairmos de lá até às 8, teríamos então, 4 horas para completar os últimos 60
quilometros o que dá uma media de 15 por hora. Esta media é abaixo do que
estamos acostumados mas, levando em conta o desgaste físico de uma noite toda
pedalando, e ainda parte do dia anterior debaixo de um sol escaldante achei que
seria prudente uma folga. Do PC4 ao PC5 eram 57 quilometros, contando com as
duas descidas longas (uma hora tem que descer). Eu computava cerca de duas
horas e meia para este trecho, então, teríamos que sair de Arvorezinha no
máximo às quatro e meia, para termos um tempo para tomar um bom café no Hotel
Hengu, onde seria o PC5. Falei com o Bruno que lá estava sobre o trecho
seguinte e ele disse que eram mais umas poucas subidas até a “ladeira” que
descia, o dono da lanchonete que tinha no posto chegou a mencionar 3 ou 4
subidas, eu parei de contar no 15, creio que foi o pior trecho da prova, o
Rodrigo reclamava de cada subida, “oh não, mais uma”, e continuávamos firmes eu
sempre puxando o nosso pelotão de 2, acho que ele tinha medo de ir na frente e
eu ficar muito pra traz.....hahahaha. Brincadeira à parte, vencemos aquelas
mais de 15 subidas e chegamos ao primeiro refresco, uma descida de uns 5
quilometros mas com asfalto muito ruim em alguns trechos, foi um trecho muito
perigoso pois ainda estava noite. Depois desta primeira descida ainda tivemos
mais algumas ou várias subidas, nem me lembro mais e pegamos o segundo e ultimo
refresco, uma descida de aproximadamente 7 quilometros com asfalto perfeito,
desci feito um louco, sem pedalar, a uma velocidade entre 50 e 60 km/h, pena
que durou pouco.
Chegamos
no PC5 às 7:15hs, nesta hora tive a certeza de que completaríamos a prova, o
trecho seria plano, lógico que com algumas subidas mas nem se compara com o
trecho da serra. Tomamos muito suco, comemos frutas e fomos em frente, faltavam cerca de 60 ou 65
quilometros para serem vencidos em cerca de 4 horas e vinte, saímos do hotel
eram 7:40 horas.
O café
da manhã nos deu um novo animo, pedalamos um bom trecho numa media de 20 por
hora e estávamos ganhando tempo para algum imprevisto, o que acabou
acontecendo. Assim que entramos na rota do sol, eu estava na pista por causa de
algumas pedras e o Rodrigo me gritou que vinha vindo um carro, acabou se
distraindo, subiu o degrau que tinha no asfalto e furou o pneu, nada muito
grave, foi só a camara de ar, que foi rapidamente substituída e seguimos em
frente. Depois disso, já muito cansados, veio o trecho da rota do sol, o
pequeno trecho da Via Láctea, já em Teutônia e os intermináveis 7 quilometros
da Linha Capivara, pra mim foram mais de 20, estava muito cansado mesmo e o
Rodrigo foi na frente, sempre me cuidando, queria que chegássemos juntos no
final, e foi o que aconteceu, depois de 19h13min e 309,71 km chegamos no tão
sonhado “CAMPO DE FUTEBOL DA LINHA CAPIVARA”.
A festa
foi boa, um excelente churrasco feito pelo pessoal local e a tradicional
confraternização entre os ciclistas, cada um querendo contar as suas historias.
A maior parte a gente conhece só de vista mas sabe que aquele “maluco” vai
estar presente na próxima, com certeza.
Agradeço
muito a todos os organizadores da prova e principalmente ao Bruno e Suzana, que
a cada passagem nos incentivava e dava forças extras para que pudéssemos
completar a prova e também ao meu Companheiro Rodrigo, grande amigo e parceiro.
Agradeço também aos amigos de Bagé, Pedro e Heron e também os outros parceiros
das pedaladas pela força que nos deram para encarar este desafio e de nos
confiarem a honra de representar o Clube Audax Bagé nesta prova.
Abraços
Lúcio Pereira Lima
Bagé, 20/01/2014