Tarde ensolarada de
domingo 21 de agosto de 2011, temperatura na casa dos 30°C, eu e meu amigo
Nilson estamos em Paris França, onde 6000 ciclistas aguardam o início da mais
importante prova ciclística de longa distância do mundo o Paris-Brest-Paris,
1200 km de muita aventura.
Pelotões de 800
ciclistas partem a cada ½ hora, são 19:00 horas esta chegando nossa vez, um
filme começa a passar diante de meus olhos. Estou agora com minha bicicleta
sobre a linha de largada, últimos ajustes,
uma invasão de pensamentos tomam conta de minha mente, pensamentos em
Deus, na família, amigos, nos treinamentos, enfim preciso me conter para não
chorar.
São agora 19:30 horas,
inicia-se uma contagem regressiva recitada pela multidão, pronto, foi dada a
largada para mais 800 intrépidos e “audaxiosos” ciclistas. Pedaladas rápidas e
objetivas perseguem 02 batedores em possantes motocicletas cortando as ruas da
cidade em meio a aplausos, gritos, palavras de incentivo,buzinas, música e
muita euforia. Alguns quilômetreos a frente as motocicletas saem de cena, agora
é fé em Deus e pé no pedal.
No pelotão um
silêncio que dá arrepios, somente o som
dos câmbios das bicicletas, apreensão misturada com sentimento de alívio passam
a ser os companheiros de pedal.
140 km do local de
partida chegamos ao primeiro posto de controle, uma multidão aguardando a
chegada desses porque não dizer loucos ciclistas ou ciclistas loucos.
Uma grande estrutura
com restaurante, banheiros, ambulatório, oficina de bikes a nossa disposição,
parabéns afinal estamos na França realmente é outro mundo.
Uma vez alimentados
vamos agora em direção ao segundo PC e assim sucessivamente até Brest onde
pretendemos dormir algumas horas.
A pedalada esta sendo
bastante agradável, alcançamos um pelotão de espanhóis e começamos andar no
vácuo. Fizemos amizade rapidinho e já estávamos até puxando o pelotão. Era
noite o pelotão estava andando numa média muito alta, 55 km/h para menos de 200
km percorridos.
Acompanhamos este pelotão por 50 km e então resolvemos abandoná-los e
tirar um pouco o pé, caso contrário poderíamos não alcançar nosso objetivo.
Alcançamos outros
pelotões onde andávamos juntos, revezávamos e outras vezes apenas observávamos
o jeitão dos europeus pedalarem. Fez uma noite bastante agradável e sem maiores
surpresas.
Amanhece o dia e
somos surpreendidos por pessoas a beira da estrada oferecendo café, bolo,
biscoitos, sucos e água com uma grande
alegria estampada em seus rostos. Paramos para fazer uma boquinha e ficamos
mais uma vez surpreendidos com o tratamento, com o carinho em que fomos
recebidos ainda mais quando dissemos que éramos brasileiros. Obrigado a todos
os Franceses!
Não podia deixar de
relatar aqui, quando em uma dessas paradas que fizemos para tomar um café a
beira da estrada, uma dessas famílias nos mostrou um álbum de fotos onde
apareciam crianças pequenas oferecendo café e biscoitos a um grupo de ciclistas
participantes do Paris-Brest-Paris, e então nos falaram que aquelas crianças
das fotos eram eles e agora adultos e já pais de família.
São fotos de cerca de
30 anos, ou seja, esta família acompanha o Paris-Brest por gerações isto é
tradição para eles o que realmente me deixou boquiaberto. Merci Beaucoup!
Mais uma noite em
cima da bike, frio, subidas e muito sono estávamos chegando em Brest, graças a
Deus inteiros e com saúde.
Após 600 km chegamos
em Brest bastante cansados, fomos direto para o hotel, mergulhei na banheira onde acabei dormindo,
meu colega me acordou, fui para a cama e dormi 06 horas mas que pareceram 06
segundos. Acordei fui para o banho,
tomei um belo café da manhã e em seguida partimos rumo a Paris felizes e
contentes, pois agora todos os quilômetros percorridos são regressivos.
Alcançamos um pelotão
de dinamarqueses e fomos orientados a não pedalarmos no meio do pelotão, ou
pedalávamos bem a frente ou íamos no vácuo. Um pelotão muito sistemático, onde
não existia um revezamento, somente uma pessoa puxava os demais, pedaladas
constantes e em silêncio, um pelotão onde todos tomavam água ao mesmo tempo é
pra lá de sistemático.
Acompanhamos este
pelotão por cerca de 60 km até o outro PC onde carimbamos nossos passaportes e
nos alimentamos para repor as energias. Partimos juntamente com os
dinamarqueses, mas alguns quilômetros a frente estes resolveram parar, talvez
estivessem com algum problema, seguimos então com outros ciclistas fazendo um
revezamento no pelotão.
Havíamos percorrido
700, 800 km e as demonstrações de fanatismo e carinho por parte das pessoas que
assistiam a prova ao longo da estrada nos davam forças para continuarmos
pedalando. Começamos a
observar ciclistas dominados pelo cansaço dormindo a beira da estrada enrolados
em mantas térmicas, em cima de muros, na grama e até mesmo havia um dormindo
dentro de um buraco onde era possível enxergar somente os pés do pobre infeliz.
Estamos agora a cerca
de 60 km de Paris, estamos pedalando sozinhos e revezando a uma média pontual
de 45 km/h . Um ritmo enlouquecido, passávamos outros ciclistas como se
estivessem parados não sei de onde tiramos tanta disposição, afinal já havíamos
pedalado mais de 1100 km.
Após 74 horas e 55
min. chegamos em Saint-Quentin, aplausos, euforia, fotos, abraços e um
sentimento de dever cumprido.
Agora é festejar,
relaxar, trocar camisas, parabenizar a todos, agradecer a Deus e aos franceses
por terem permitido a vivência de momentos que com certeza ficaram para sempre
em minha memória.
Gostaria de mandar um
abraço ao Erich de Santa Cruz do Sul que apesar de ter sua bike danificada
conseguiu concluir com uma bike emprestada, um grande abraço a guerreira
Lidiane com quem encontrei no aeroporto em Paris quando retornava ao Brasil,
2015 tem novamente, ao meu amigo Lazari que encontrei no Louvre, ao “Estrela”
Faccin, obrigado pelas dicas foram muito úteis, ao pessoal de Bagé que
representou muito bem a Rainha da Fronteira, sou de Bagé também, aos ciclistas
de Curitiba que encontrei na chegada, ao Cézar do Rio, desta vez o parafuso
aguentou , um abraço à Simone ao Alexander e a
muitos outros brasileiros que participaram deste grande evento.
Um abraço ao meu
amigo Homero que se dispôs a viajar até Paris para ser meu apoio em Brest,
companheirão, e ao meu colega de pedal Nilson, é sempre um prazer pedalar
contigo e espero ter muitas outras oportunidades de pedalar ao seu lado.
Muito obrigado, 2013
tem o London-Edinburgh-London e em 2015 o Paris-Brest-Paris espero poder
participar se Deus assim quiser. Au Revoir!
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