07 abril 2013

Jornal ZH: Ciclismo conquista cada vez mais adeptos em Porto Alegre

Confira abaixo a matéria da jornalista Taís Seibt, veiculada na edição dominical deste domingo, 07/Abril, no Jornal Zero Hora.

Ciclismo conquista cada vez mais adeptos em Porto Alegre Ronaldo Bernardi/Agência RBS


Um aro de metal retorcido decora a loja, oficina e montadora de bicicletas onde trabalha o educador físico Rodrigo Barcellos, 42 anos, no bairro Rio Branco.
O estrago data de 22 de janeiro de 2011, quando o bancário Ricardo Neis atropelou dezenas de ciclistas que faziam a pedalada mensal da Massa Crítica pelas ruas de Porto Alegre.
— Infelizmente, precisou daquele episódio para o ciclista se tornar mais visível na cidade — resume Barcellos.
Apelidado de Pirata pelos ex-alunos de natação por causa dos piercings na orelha e do corpo tatuado, há 15 anos, Barcellos usa a bici como meio de transporte. Atualmente, pedala 15 quilômetros do bairro Tristeza até a loja, que fica a poucas quadras do Parque da Redenção, faça chuva ou faça sol.
Pelas ruas, percebe o que muitos porto-alegrenses também estão vendo: cada vez mais gente pedalando. Tanto é que a unidade da Gaúcha Bike onde Pirata trabalha, aberta em março deste ano, é a ampliação do negócio que tem matriz na Zona Sul. Além de vender e personalizar bicicletas, o objetivo é ajudar ciclistas iniciantes a pedalar com segurança.
— Não adianta construir ciclovias, colocar bicicletas para alugar, se ninguém instruir essas pessoas sobre como andar de bike na cidade — diz o ciclista.
Confira como é pedalar de casa até o trabalho na Capital
Dezenas de iniciativas voluntárias têm feito muita gente tirar a poeira da magrela na Capital. Há até quem tenha se motivado a começar do zero, caso de Tania Pires, 62 anos, presidente da ONG Centro de Inteligência Urbana de Porto Alegre.
Motivo de chacota ao desafiar alguns amigos a ensiná-la a pedalar, ela firmou uma parceria com a loja Dudu Bike, que empresta as bicicletas e os instrutores, e com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que ministra as aulas teóricas. Desde setembro do ano passado, 250 alunos já passaram pela BiciEscola, que já inspira iniciativas semelhantes em Cachoeira do Sul e Pelotas.
— Assim como eu, milhões de pessoas não sabiam andar de bicicleta, só que não tinham oportunidade de aprender — compartilha Tania.
Para quem está inseguro, as pedaladas coletivas ajudam a criar coragem, na opinião do bancário Leandro Leite, 38 anos. Há três anos no setor de informática do Banrisul, ele resolveu comprar uma bicicleta para ir ao trabalho. Pedalando nove quilômetros, do Teresópolis até o Centro, e vice-versa no fim do dia, já emagreceu 20 quilos. Agora, faz campanha para que mais colegas ocupem as vagas do bicicletário.
— Participar de um passeio noturno é um bom começo, porque o trânsito já é mais calmo e tem outros ciclistas para dar dicas — sugere, comemorando também a possibilidade de socialização nas pedaladas.
Era essa a intenção do funcionário público Juarez Pereira, 47 anos, quando começou a organizar as rotas ciclísticas que partem do Gasômetro todas as terças e quintas, às 20h, e aos sábados e domingos, às 17h30min. Vindo de Santana do Livramento, ele queria conhecer melhor a cidade — e as pessoas da cidade.
— Todo dia tem alguém que chega pela primeira vez. Dá para perceber que, além de começar a pedalar, as pessoas querem tirar um tempo para bater um papo, conhecer gente e curtir a cidade de uma forma mais light — descreve Pereira.

Plano Diretor Cicloviário se arrasta em disputa judicial
Apesar de ter ficado mais em foco após o atropelamento coletivo de 2011, o cicloativismo em Porto Alegre já somava pequenas conquistas desde 2009, quando o Plano Diretor Cicloviário foi aprovado. A lei previa que 20% do valor arrecadado pela EPTC em multas deveria ser revertido na construção de 495 quilômetros de ciclovias e em campanhas educativas.
Na prática, apenas 13 quilômetros já entraram em operação e a obrigatoriedade de destinar 20% da verba das multas é questionada na Justiça, sob alegação de inconstitucionalidade da parte da prefeitura.
— Somos contrários a carimbar recursos de multas para fins de investimento. Hoje, obras de contrapartida são a grande fonte de financiamento de ciclovias — argumenta Vanderlei Cappellari, diretor-presidente da EPTC.
As contrapartidas de obras da Copa, somadas a investimentos pontuais da EPTC, farão com que a malha cicloviária aumente para 50 quilômetros até maio do ano que vem. Problemas técnicos nos trechos existentes, no entanto, incomodam ciclistas ouvidos pela reportagem. Entre eles, o vereador Marcelo Sgarbossa, cuja plataforma de campanha foi movida a pedaladas.
O piso escorregadio na Avenida Ipiranga em dias de chuva, a largura de 1m06cm na Avenida Icaraí, que impede o tráfego em dois sentidos ou a ultrapassagem, e a ciclofaixa em cima da calçada na Restinga são alguns dos itens criticados. Outro, é o fato de as rotas não estarem sendo implantadas de maneira gradual e contínua, e sim em pequenos trechos desconectados.
— Isso penaliza o ciclista, não permite que a bicicleta seja um meio de transporte viável. As ciclovias acabam cheias no fim de semana, apenas para o lazer — avalia Sgarbossa.
Apesar das ressalvas, o vereador considera positiva a existência de ciclovias e o uso da bicicleta nas horas de lazer, pois isso ajuda quem tem medo de pedalar a perder esse bloqueio.
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