Recebi esta semana o relato de participação do ciclista Lucio Lima, no Brevet Randonneur de 300k, realizado nos dias 17 e 18 de maio, em Porto Alegre, pelo Clube Audax Porto Alegre.
Segue abaixo:
300 km COM GOSTO DE
DESPEDIDA (AUDAX POA 17/05/2014)
É
isso mesmo, daqui pra frente só faço prova noturna se as condições de segurança
forem muito boas, o que é praticamente impossível nestas nossas estradas mal
conservadas, sem policiamento, acostamentos horríveis e às vezes até
inexistentes ou tomados pelo mato ou buracos que podem causar sérios acidentes
além do despreparo da população que, principalmente nos sábados à noite saem
pra beber e dirigir, o que todos sabem ser uma combinação fatal. Relembro que
há pouco tempo um ciclista que participava de uma prova de 400 do Audax do
Paraná foi atropelado e morto por um destes cretinos, que com certeza está e
ficará impune por esta atrocidade. Em um anúncio de uma prova que ainda não
aconteceu, os organizadores alteraram o horário tradicional da saída para que a
prova passasse por um certo trecho durante o dia, por ser muito perigoso. E de
dia? Não tem perigo?
Diga-se de passagem, que uma
prova próxima deste mesmo local acabou com muitas desistências recentemente, o
que os organizadores estão fazendo para que isso não aconteça?
O que está acontecendo é que
muitos destes organizadores estão “gostando” da brincadeirinha, organizam uma
prova destas, cobram um absurdo pela inscrição, oferecem muito pouco e ficam com o “troco”,
isto está virando meio de vida, há exceções é claro.
Estou pensando também na saúde, pedalar é bom,
mas acho que temos que saber os nossos limites.
Bem, chega de desabafo, me deixa
contar um pouco do que foi essa prova.
Saímos do DC navegantes
pontualmente às 22:15hs do dia 17 de maio, sábado, seguimos em direção à BR290,
passando pela ponte móvel do Guaíba, local “MUITO APROPRIADO” para a prática do
ciclismo, confluência de varias vias expressas com varias interseções, onde a
velocidade máxima de 60 km/h parece ser a mínima, ninguém passa por ali a menos
de 60 km/hora, e diga-se de passagem, “CADA UM POR SÍ”, ainda bem que nos
avisaram para tomar cuidado pois existem vários “BURACOS” perigosos de se
enfiar um pneu e levar um tombo, ainda mais à noite em que tudo é mais difícil,
agravado pela diminuição da visibilidade motivada pela neblina uma mistura
muito grande de “perigos” que daqui pra frente decidi não encarar.
Alguns quilômetros antes do
pedágio e do posto da policia, uma viatura da Policia Rodoviária Federal passou
bem devagar por mim e disse para que eu e os outros da “turma” parássemos no
posto após o pedágio, achei muito estranho e passei o recado para as pessoas
que estavam próximas, neste inicio da prova ainda tinha muita gente andando
junto. Quando cheguei no posto, logo depois de passar por um veiculo da
organização, vi que ninguém estava parando, o policial que me abordou estava
parado em frente à viatura e parecia não estar muito preocupado com as pessoas
que estavam em cima daqueles frágeis veículos de duas rodas e muito menos com o
que estavam fazendo ali.
Eu não estava com a iluminação
muito boa, baita irresponsabilidade de minha parte, e acabei “pegando carona”
com uma turma de 6 ou 7 que pareciam estar no mesmo ritmo que eu, um deles era
o Valter, conhecido de outras provas. Seguimos pela BR290 até a estrada que leva até Charqueadas e
entramos nela, em direção ao PC1, logo após o Postaço, num denominado “Centro
de Convenções” de Charqueadas, local com entrada toda em pedrisco, piso
excelente para se andar de bicicleta, principalmente em uma speed, um ciclista
que acabaria fazendo a prova quase toda comigo levou um tombo na entrada e eu
levei outro na volta, nada grave pois estávamos devagar.
Chegamos lá às 00h20min, fiquei
por lá só uns dez minutos, o tempo para comer uma banana e uma barra de cereais
e encher a Caramanhola com água.
Segui sozinho a partir daí,
entrei à esquerda na entrada de Charqueadas meio que por instinto, não vi
nenhuma placa indicativa, como já disse, a noite estava com muita neblina e a
visibilidade reduzida. Segui então para a próxima cidade, São Jeronimo e quando
cheguei no portal da Cidade me lembrei que no ano passado passei direto e
entrei na cidade, virei à esquerda, andei um pouco e vi uma placa indicativa da
Termoelétrica, parei, voltei um pouco e vi que estava vindo algum carro em
sentido contrario, percebi que aquele era sim o sentido correto. Passei por
alguma coisa no meio da estrada que não sei o que era e isso me custou um pneu
furado, o que eu só perceberia daí a pouco.
Depois que percebi que o pneu
havia furado, o dianteiro, tratei de parar para trocar a câmera. Vários
ciclistas passaram, se ofereceram para ajudar e eu só agradeci, não havia
necessidade. Quando eu estava saindo, passou o Claudemir e o Eduardo,
perguntaram o que tinha acontecido e eu disse que tinha sido um furo e que
estava tudo ok. A partir daí e até o
final da prova fui na companhia do Claudemir com a sua “PODEROSA” Monark 10 ano
78, o Eduardo foi junto até o PC3 e depois continuou sozinho, era bem mais novo
que a gente e estava com um equipamento muito bom.
Um pouco antes do PC2, levamos um
baita susto, passou pela gente uma Kombi bem velha e logo depois ela parou no
meio da pista, saímos em disparada sem olhar pra traz, ficamos sem entender se
a Kombi havia estragado ou era algum assalto ou algum engraçadinho querendo
fazer piada com os “malucos” andando de bike numa hora daquelas por um lugar
daqueles, é de parar para pensar se eles é que não estão certos.
Chegamos ao Pesk Pague PANORAMA
às 03h15min, exatamente 5 horas para os 103 quilômetros do trajeto, o tempo que
costumo legar para fazer esta distancia nada mal considerando que era noite e
que a neblina estava incomodando, a gente ficava com o corpo molhado e o ar
estava com uma temperatura não muito agradável deixava tudo gelado, creio que
estava abaixo dos 10 graus. Comi um sanduiche e tomei um copo de café com
leite, além de ir ao banheiro e completar a água.
Ficamos por ali uns 15 minutos eu
acho e saímos em direção ao PC3, que era o mesmo do PC1, não era prudente
deixar o corpo esfriar, tínhamos que continuar pedalando para não perder o
ritmo e a temperatura do corpo.
O retorno até Charqueadas foi
tranquilo, nem percebi que passamos por São Jeronimo, quando achei que era São
Jeronimo já era Charqueadas. Na entrada do PC3, como já disse, caí um
“tombinho”, estava bem devagar e nem cheguei ao chão realmente, consegui
desclipar as sapatilhas e saí andando, deixando a bike no chão. Chegamos neste
posto às 6h15min, felizmente iria amanhecer daí a pouco.
Logo depois que saímos, furei o
pneu trazeiro, ele estava com a fita antifurto mas não adiantou, um pequeno
pedaço de arame passou por ela também e tive que fazer a segunda troca, o que
nos custou perto de 15 minutos no tempo. O Claudemir e o Eduardo esperaram
pacientemente que eu fizesse a troca. Passados mais alguns quilômetros, percebi
que o meu pneu trazeiro estava murchando, parei, dei uma enchida e continuei,
na segunda ou terceira vez que tive que encher acabei parando e trocando o pneu
e a câmera, aconteceu exatamente o que tinha acontecido na prova de Bagé, tive
a paciência de caprichar na troca para evitar problemas futuros o que nos
custou mais alguns minutos, no final vi que valeu à pena, não tive mais
problemas com os pneus.
Logo depois disso o Eduardo
resolveu ir em frente sozinho, eu e o Claudemir continuamos naquele ritmo
tranquilo, rumo ao PC5 no Restaurante das Cucas.
Como havíamos combinado, paramos
no Posto Guaibão, eita vontade de ficar por ali mesmo, estou morando em Guaíba
agora e o Posto fica a no máximo 3 quilômetros de casa. Comi uma torrada com um
pingado branco, do jeito que eu gosto e ficamos um pouco por lá, para descansar,
já havíamos pedalado 198 quilômetros em perto de 11 horas, um tempo razoável,
pelo menos pra mim.
Até o Restaurante das Cucas, onde
ficava o PC5, o ritmo diminuiu um pouco, o Claudemir estava na sua segunda
prova do Audax e primeira de 300 quilômetros, a pessoa pensa que não vai conseguir, que é impossível tal feito, mas tudo é uma questão de
manter a calma e a serenidade, girar muito e daí todas as subidas ficam mais
leves e as decidas eternas, é só colocar no automático com dizia o meu colega e
aproveitar a paisagem. Este trecho tem algumas subidas, quer dizer, elevações,
subidas mesmo eu só vi em Teutônia, aquilo sim é que é subida, o resto é
“rampinha” como dizia o meu amigo Rodrigo de Bagé, depois que passamos juntos
pelo “terrível” Audax 300 no inicio do ano naquela região.
Chegamos bem ao Restaurante das
Cucas, já se haviam passado 13h45min de prova e tínhamos percorrido 236
quilômetros, o retorno a Porto Alegre teria que ser feito de qualquer maneira,
então, depois de comermos alguma coisa fomos em frente, iniciamos a nossa
jornada rumo à Gloria de um AUDAXioso que é receber a medalha e o certificado
que, alias, tem o mesmo valor pra quem faz a prova em tempos recordes, cada vez
menores. Demos uma parada rápida em Guaíba para um lanchinho e terminamos a prova em 18hs10min.
Espero que os organizadores de
Audax do Brasil não entendam este relato
como uma “critica” direta a eles, muitos deles, alias, lutam pelos direitos dos
ciclistas e para que possamos ter mais ciclovias e ciclovias decentes, com
exceções é claro. Nós, Brasileiros, gostamos tanto de imitar as coisas de
outros países, então, porque não imitar o respeito que existe em outros países
pelos ciclistas?
Agradeço ao meu novo Amigo
Claudemir por ter Iluminado o meu caminho nesta prova (literalmente), pois,
como já disse no inicio, minhas lanternas não estavam dimensionadas para esta
neblina toda e as luzes deste amigo ajudaram muito no sucesso desta prova,
grande abraço a ele e espero ter ajudado com a minha experiência, minhas piadas
e historias colhidas nestes vários Audax de que participei. Agradeço também a
ele pela trilha sonora durante grande parte da prova, ele tem um sistema se som
movido por baterias de parafusadeiras e duas caixas de som embutidas nos
suportes das caramanholas, além de buzina de moto, leds na roda trazeira e
varias garrafas de agua na garupa, confesso que não o vi usá-las, acho que
serviam de contrapeso.
Agradeço também à minha esposa
Vânia, pela torcida e pela paciência de ficar me esperando todos os domingos de
treinos para o almoço, com o coração na mão e torcendo mesmo para que tudo
desse certo, ainda mais neste dia 17 de maio, dia em que completamos 33 anos
juntos em que a deixei sozinha, acho que ela entendeu e também sempre me apoiou
nas pedaladas, por achar que praticar um exercício é fundamental, apesar de ela
mesmo deixar a desejar na frequência de suas caminhadas.
Agradeço a todos que torceram por
mim por mais esta prova, principalmente meus filhos e meu amigo Edison de
Candiota, que me ligou logo depois da prova pra saber das noticias.
Grande abraço a todos.
Lúcio
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